Opinião Perspectivas da Perda Auditiva Relacionada ao Trabalho Raul Nielsen Ibañez
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Condições
adversas nos ambientes de trabalho podem lesar a audição dos trabalhadores.
O ruído continua sendo o principal agente causador das perdas auditivas
relacionadas ao trabalho, mas a influência dos
produtos químicos na gênese do problema é cada vez mais conhecida. No Brasil, nas décadas de 80 e 90,
houve progresso no sentido de prevenir essas alterações. Entretanto, não se pode
dizer com segurança que a situação esteja sob controle, uma vez que existe
muita heterogeneidade no alcance das ações adotadas por empregadores, governos
e trabalhadores. No
futuro, o controle da perda auditiva relacionada ao trabalho parece estar ligado
à melhoria definitiva dos ambientes de trabalho, à ênfase na avaliação da
exposição aos agentes nocivos, aos sistemas de gestão da conservação
auditiva, ao aprimoramento da proteção individual e, a mais longo prazo, ao
desenvolvimento de medicamentos capazes de proteger as células ciliadas e
promover sua regeneração. Mas,
e no presente, os trabalhadores ainda desenvolvem perdas auditivas relacionada
ao trabalho? A resposta é sim. Desenvolvem tanto quanto antes? Aparentemente a
resposta para esta pergunta é não. Tudo indica que existe um tendência
nacional de estabilização dos limiares auditivos dos trabalhadores. Esta tendência
pode ser inferida pelo seguinte conjunto de fatores: a) os trabalhadores
realizaram diversos focos de mobilização, os quais redundaram em modificação
cultural de suas próprias estruturas de organização, ações judiciais e
divulgação na imprensa, com a consequente melhoria dos ambientes de trabalho,
fruto da pressão sofrida pelos empregadores; b) o aumento do uso de protetores
auditivos, impulsionado pela melhoria no conforto proporcionada pelos modernos
modelos de plugs, sem interferência em seu custo; c) a ampliação do universo
de realização de exames audiométricos; d) os avanços na qualificação técnica
dos profissionais e prestadores de serviços nas áreas da engenharia de segurança,
acústica, medicina do trabalho, otologia e audiologia ocupacionais; e) o
desenvolvimento tecnológico dos ambientes industriais e sua progressiva
automatização, associados aos sistemas de gestão da qualidade, produtividade
e meio ambiente e f) a modernização da legislação. Como
saber se de fato a ocorrência de lesões auditivas está diminuindo no país?
Analisando bancos de dados de exames audiométricos. Com a proliferação de
exames audiométricos e seus resultados armazenados em memória virtual, cada
vez se torna mais fácil acompanhar ano a ano a evolução dos limiares
auditivos de grupos de trabalhadores. A partir de 1998, o Ministério do
Trabalho adotou um critério relativamente simples e padronizável de verificar
a progressão dos limiares auditivos. Determinar o percentual anual de
desencadeamentos e progressões de perdas auditivas induzidas pelo ruído passou
a ser tarefa quase rotineira na conservação auditiva. Passar daí para a
comparação entre diferentes grupos, cidades e categorias de trabalhadores é
apenas uma questão de tempo. Outros indicadores podem ser menos confiáveis.
Uma queda no número de casos notificados, seja ao Ministério da Previdência
ou a outros sistemas regionais de notificação compulsória, não vai
significar necessariamente o controle da doença, pois a subnotificação ainda
é muito elevada. Pelo contrário, com o aumento dos mecanismos legais de
controle das notificações, o esperado é um incremento nos próximos anos,
como primeiro passo para que se conheça a real magnitude do problema, suas tendências,
as prioridades das ações e, a partir daí, os resultados concretos dessas ações. Porto Alegre, 13 de setembro de 2009.
Raul Nielsen Ibañez é médico, especialista em Otorrinolaringologia e Medicina do Trabalho. |
OPINIÕES SOBRE OUTROS ASSUNTOS: Avaliação Otológica Ocupacional Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP) e Exames Audiométricos Pessoas Portadoras de Deficiência Auditiva e Trabalho com Exposição ao Ruído
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