Estado
do Rio Grande do sul Secretaria
da Saúde Coordenadoria da Política de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador
AUDIÇÃO
E TRABALHO
A
audição é fundamental para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social
dos seres humanos. As perdas auditivas figuram entre as mais frequentes doenças
relacionadas ao trabalho. São provocadas principalmente por exposição a ruído,
agentes químicos, radiações ionizantes e acidentes com traumatismo craniano.
Acometem pessoas com desenvolvimento normal que vêem suas capacidades humanas
serem reduzidas progressivamente. Podem ainda fazer com que trabalhadores tenham
cerceada sua ascensão hierárquica ou o acesso a um novo emprego, às vezes
apenas por uma leve alteração do exame que avalia a audição. Estima-se
que mais da metade dos trabalhadores da indústria cumpre sua jornada em
ambientes com a presença do ruído e dos outros agentes. Não se dispõe de
informações precisas acerca do número de trabalhadores acometidos do
problema, mas pelas amostras de indústrias que divulgam seus dados, de 10 a 60%
dos trabalhadores expostos a essas condições sofrem algum grau de lesão
auditiva. Somando-se aos trabalhadores de outras atividades, como a agropecuária,
o comércio e algumas outras modalidades de serviços, o número de vítimas do
agravo atinge proporções preocupantes.
Agentes
nocivos à audição do trabalhador A exposição ao ruído é a principal causa das perdas auditivas relacionadas ao trabalho. O ruído é um agente físico emitido em boa parte dos processos industriais, máquinas, ferramentas, motores e fones de ouvido. A exposição do trabalhador pode ser constante ou intermitente. O tempo de exposição, a intensidade do ruído e a susceptibilidade do indivíduo têm relação direta com a severidade dos agravos à saúde. Seus efeitos nocivos à saúde humana não se restringem à audição, não sendo raros os distúrbios emocionais, cardiovasculares, fadiga e stress. Nos ouvidos a capacidade lesiva do ruído se concentra nas células ciliadas da cóclea, o que traz por consequência uma perda auditiva de tipo neuro-sensorial.
A
exposição a produtos químicos nos ambientes de trabalho e sua relação com
as perdas auditivas dos trabalhadores é frequentemente negligenciada. Solventes
orgânicos e metais pesados estão comprovadamente relacionados ao agravo, mas a
estimativa é de que muitos outros compostos com ação neuro-tóxica possam
também lesar o ouvido humano. Radiações ionizantes, principalmente as relacionadas a raios-x, são uma causa menos frequente de perda auditiva, por ser menor o número de trabalhadores expostos. Perdas auditivas ocasionadas por traumatismos cranianos, com ou sem fratura de osso temporal, podem ser consequências de acidentes no trabalho ou no trajeto.
Queixas
relacionadas à audição Perda
auditiva:
as perdas auditivas relacionadas ao trabalho, principalmente as induzidas pelo
ruído, geralmente progridem enquanto persistir a exposição. Em seus estágios
iniciais costumam ser completamente assintomáticas, uma vez que a lesões se
iniciam na região da cóclea responsável por escutar sons de alta frequência,
não muito importantes para as situações habituais da vida. Com o passar dos
anos, à medida que a lesão avança para regiões auditivas mais nobres, o
trabalhador começa a notar dificuldade para compreender o que é falado em
ambientes movimentados ou barulhentos, na televisão e no telefone. É comum,
nesta fase, a queixa de que o trabalhar escuta a fala com intensidade, mas não
compreende o que está sendo dito. Finalmente, em estágios mais avançados da
doença, felizmente de progressão mais lenta, a identificação da fala fica
comprometida até mesmo em ambientes silenciosos. Zumbidos:
estima-se
que quase metade do trabalhadores acometidos do agravo notam algum grau de
zumbido nos ouvidos. Podem aparecer em qualquer estágio da perda auditiva. Em
trabalhadores com perdas auditivas leves costuma ser a primeira manifestação
da doença. Zumbidos severos podem ser incapacitantes e provocar o afastamento
definitivo de ambientes com ruído. Examinando
o trabalhador e sua audição Exame físico: o exame dos ouvidos é realizado através da otoscopia. Uma vez que a perda auditiva relacionada ao trabalho ocorre no ouvido interno, sem qualquer manifestação visível através da membrana timpânica, a otoscopia normal é o resultado esperado ao se examinar o trabalhador. Qualquer tipo de alteração visualizável não costuma ser relacionada ao trabalho.
Exames
complementares: o exame audiométrico
é o indicado para avaliar a audição do ser humano, por razões técnicas e
legais. É um exame subjetivo, sujeito a interferências de diversos fatores,
mas tem se revelado útil e confiável no acompanhamento do trabalhadores. A
perda auditiva relacionada ao ruído é sempre neuro-sensorial. Inicia em altas
frequências, geralmente em 4000 ou 6000 Hertz, e com o passar dos anos pode
comprometer frequências mais baixas. Não leva à surdez profunda, mas chega a
provocar alterações severas a altas frequências e moderadas em frequências médias
e baixas. Outro exames de audição não são usados rotineiramente no
acompanhamento dos trabalhadores, ficando restritos às situações de investigação
etiológica. Como
tratar as perdas auditivas As
perdas auditivas neuro-sensoriais relacionadas ao trabalho são irreversíveis,
não dispõem de tratamento medicamentoso ou cirúrgico. A prevenção é única
arma disponível no combate ao agravo. Devem ser prevenidos o desencadeamento de
novos casos, o agravamento dos casos já existentes e as sequelas sociais
decorrentes da doença.
A
prevenção das perdas auditivas relacionadas ao trabalho se faz principalmente
pela melhoria dos ambientes de trabalho, com a eliminação ou o controle
rigoroso dos riscos existentes. Paralelamente devem ser implantadas medidas de
proteção individual, que nada mais são do que o uso paliativo de protetores
auditivos tipo plug ou concha até que as medidas ambientais sejam implantadas.
A manutenção de um programa de conservação auditiva por parte dos
empregadores é a forma de organizar de forma racional as medidas a serem
adotadas.
Secretaria
de Estado da Saúde Política de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador Elaboração: Raul Nielsen Ibañez Porto Alegre 2002
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